quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rolhas: pra que te quero?

Há algum tempo venho pesquisando sobre a diversidade de rolhas existentes no mercado. Temos a de cortiça, a sintética, as práticas screw-caps. Isso sem contar com a tampas metálicas e de pressão. Mas qual será a melhor de todas?

Hoje inicio uma série de posts sobre o assunto - começando com a opção mais clássica, a rolha de cortiça.

Cortiça
A rolha de cortiça tradicional é feita da casca do sobreiro, uma árvore nativa da Península Ibérica, na Europa. Para que a cortiça possa ser "colhida", a árvore precisa de um tempo médio de 10 anos para a casca alcançar a espessura ideal. Isso mesmo! Aquela rolha linda que você joga fora em dois tempos levou uma década inteirinha para se formar. A boa notícia é que este processo não causa danos à árvore. Mas daí até o sobreiro estar pronto novamente para ser utilizado, é preciso esperar mais 10 aninhos.

Marido e eu em Santa Cruz do Sul (RS). Ao fundo, do lado direito, um sobreiro!

Segundo a revista Istoé Dinheiro, somando-se isto ao aumento da produção de vinhos e à restrição do plantio dos sobreiros em apenas algumas áreas do mundo, a cortiça vem se tornando escassa - motivo que alça os exemplares produzidos da forma tradicional ao patamar de uma das matérias primas mais caras do vinho, custando até U$ 1 a unidade!

Outro fator importante é a mágica da microoxigenação proporcionada pela cortiça. Este material, naturalmente de baixa densidade, tem dentro de suas células um gás bastante semelhante ao que encontramos em nossa atmosfera. Acrescente aí uma permeabilidade extremamente específica e voilà! Este conjunto de fatores possibilita a "troca de ar em proporções mínimas e perfeitas" (do Desmistificando o Vinho), permitindo, segundo o site Notas de Degustação "a polimerização de taninos e a consequente evolução do vinho em garrafa". Ou seja, para os vinhos de guarda - aqueles que se beneficiam do envelhecimento para o aumento da complexidade dos sabores e aromas -, a rolha de cortiça é fundamental! E também explica aqueles dois furinhos em cima da cápsula - aquela proteção de metal ou plástico que vem em cima da boca das garrafas. Eles existem para permitir que o ar passe e o envelhecimento aconteça naturalmente. Chique, né? Aprendi no Desmistificando o Vinho!

Infelizmente, nem tudo são flores quando se trata deste material. As rolhas tradicionais são apontadas como responsáveis pelo chamado efeito bouchonée em quase 15% da totalidade dos vinhos. O bouchonée é resultado da contaminação por um composto químico chamado 2-4-6 Tricloroanisol, ou simplesmente TCA, que deixa um gosto de papelão molhado na nobre bebida. Só que, lendo o site Mar de Vinhos, descobri que o TCA pode impregnar-se não só na cortiça como em papéis, plástico e até (pasme!) nas barricas de madeira. Por isso, concordo com o Notas de Degustação quando ele fala que "outras etapas antes do engarrafamento podem contaminar o vinho com o TCA. Ou seja, uma rolha sintética não garante a ausência de TCA em um vinho."

No próximo post, a temida rolha sintética!

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